Quando encerrei o bate-papo citando os 97 dias que faltam para a Copa do Mundo, o técnico Tite revelou a ansiedade e a apreensão pelo momento. O comandante da Seleção Brasileira virou para o seu auxiliar, Cléber Xavier, e contou cada vez que ouve falar da contagem regressiva para a Copa tem aquela noção da realidade, aquele friozinho na barriga, de que “tá chegando a hora”.
É uma ansiedade natural de um profissional que carrega uma responsabilidade gigantesca de comandar pela segunda vez seguida a Seleção em um Mundial. Mas é um contraste enorme também em relação à preparação meticulosa e recheada de dados e detalhamentos.
Mas mesmo às vésperas da Copa, ainda há espaços para testes no time que vai ao Catar. O assunto do momento é Pedro. Tite não antecipa convocação, mas fiz duas perguntas sobre o centroavante do Flamengo e as respostas indicam que ele vai ter a sua oportunidade na lista de setembro para os dois últimos amistosos do final do mês que vem, antes da Copa.
– Pelo nível que ele está também tendo e dando sequência. Um dos grandes méritos do Dorival foi ajustar o Flamengo, jogar com dois atacantes, um de movimentação, que é o Gabigol, e um mais de área, e ele está performando a cada jogo. Sem assegurar absolutamente nada, pois não faz parte de mim, ele está em um grande momento, potencializado pelo momento na retomada da equipe – disse.
Algo que chama atenção é como Tite sempre busca contato visual com o auxiliar técnico Cléber Xavier. Ele é uma espécie de curador dos dados que às vezes falham na memória do treinador da Seleção. Ao mesmo tempo, revela o trabalho em equipe, que tem na figura central o técnico, mas com abertura total para discussão de ideias e argumentação do time que está nos bastidores.
Assim surgiu a convocação de Raphinha, o talento da base do Avaí, que estava voando alto no Leeds United, da Inglaterra, quando foi chamado pela primeira vez, e que hoje veste a camisa do Barcelona. Sem vaidades, Tite contou como a sua comissão chegou com dados contundentes sobre o jogador e tornou impossível para ele não chamar a novidade.
– O Raphinha foi uma grande descoberta da minha comissão técnica. Estávamos com uma lista larga de 35, 40 atletas, e não estava o Raphinha. Eles entraram na minha sala e disseram que tinha o Raphinha, pedi para filtrarem, e disseram que já estava.
Falta pouco para a Copa. O mês de setembro vai ser decisivo para as últimas definições. Tite admitiu que não tem como mensurar o quanto já é certeza e o quanto ainda é dúvida. Mas nas palavras, de uma forma geral, há muita convicção no trabalho realizado, e no olhar do treinador há aquele brilho especial de um profissional com gana de vencer e trazer o hexa no final do ano. |