Antes do primeiro ensaio para a apresentação deste domingo (21), a última vez que o guitarrista Augusto Licks e o baterista Carlos Maltz se viram pessoalmente foi em um tribunal. Há quase 30 anos. A partir das 20h, no Opinião, os dois voltam a se encontrar para o show Licks & Maltz com Engenheiros Sem Crea, projeto de Sandro Trindade, que assumirá os vocais e o baixo da performance.
A apresentação irá celebrar a fase favorita de 99% dos fãs de Engenheiros do Hawaii, denominada GLM — (Humberto) Gessinger, Licks e Maltz. A última vez que a banda subiu ao palco com essa formação foi em 28 de novembro de 1993, em São Paulo, às vésperas do guitarrista deixar o grupo.
O repertório deste domingo deve incluir hits desta fase de ouro — foi um período de sucessos radiofônicos como Infinita Highway, Pra Ser Sincero, entre outros —, que teve início em 1987 e gerou cinco discos de estúdio. Licks acrescenta que uma ou duas músicas do lados B devem entrar no setlist. Para Maltz, será um show histórico:
— É um reencontro que nem imaginava mais que fosse acontecer nesta encarnação (risos). Ainda não é o GLM, o que a gente espera que possa acontecer mais para a frente, mas já essa reunião com o Augusto já é uma alegria.
— É uma celebração. Vamos tocar para pessoas que querem que a gente toque — resume Licks.
O engenheiro dessa ponte entre Maltz e Licks foi Sandro Trindade, que será o baixo e a voz da banda no show. Desde 2016, ele mantém o projeto Engenheiros sem Crea — a banda tributo também será representada pelo guitarrista Jeff Gomes no palco. Nos últimos anos, o grupo tocou separadamente com Maltz e Licks. Até que surgiu a ideia de juntá-los no palco.
O convite
Sandro também convidou Gessinger por e-mail. Depois que se concretizou o convite dos outros dois integrantes, o fã enviou outra mensagem: “Confirmou o show. Vamos?”.
— Não tive resposta. Mas ele tem o direito dele — assentiu o músico.
Licks completa:
— Humberto não deixa de estar presente porque a grande parte do repertório são composições dele. Temos que respeitá-lo.
Por outro lado, Maltz e Licks mantêm as portas abertas para o vocalista. Especialmente para o ano que vem, quando a banda celebra 40 anos.
— Seria uma alegria para nós e os fãs. Não creio que voltaríamos como banda, cada um já seguiu seu rumo. Não somos as mesmas pessoas, mas uma reunião para turnê comemorativa, como outras bandas fizeram, espero que a gente possa fazer — avalia Maltz. — Temos uma Ferrari guardada na garagem. Podemos tirar ela para dar uma voltinha (risos).
Procurado pela reportagem de GZH, Gessinger apenas sublinhou:
— A única coisa que tenho a falar publicamente são votos de que eles tenham uma noite legal.
Reencontro
Hoje Maltz vive em Joaçaba (SC), e se dedica à astrologia, enquanto Licks vive no Rio de Janeiro e, recentemente, realizou trabalhos instrumentais. O guitarrista lembra que seu período na banda foi marcado por sonhos e pesadelos. Porém, lembra que o trio encontrava um equilíbrio quando assumiam seus contrastes.
Licks ressalta que ele e Maltz podem ser pessoas com convicções destoantes, mas isso não impede de fazerem música. O guitarrista acrescenta que o mundo real é construído pessoas diferentes
— Esse show do Opinião traz um simbolismo de paz, em um mundo cada vez mais radicalizado e intolerante — reflete Licks. — Não vai resolver os problemas da humanidade, mas fica o recado que é possível.
Licks e Maltz se reaproximaram em 2019, após uma ligação do baterista. Naquele momento houve uma tentativa de reunião da banda que não avançou. Três anos antes, o guitarrista chegou a mandar uma mensagem para Maltz, quando o baterista tratava de um aneurisma na aorta.
Pessoalmente, a última vez que os dois haviam se visto foi em uma sala de audiência do Rio, em 2 de fevereiro de 1995 — Licks moveu ação contra a banda pedindo dissolução da sociedade e indenização por danos morais e agressão à imagem — como conta o livro Infinita Highway: Uma Carona com os Engenheiros do Hawaii, de Alexandre Lucchese. Eles só foram se reencontrar para o primeiro ensaio do show, na última quarta-feira (17).
— Eu não sabia o que fazer ou falar. Fiz minha pergunta tradicional como astrólogo: “E aí, velho, o que você tem feito nesta tua existência terráquea? Como a Terra está te tratando?” — descreve Maltz.
Sobre o primeiro ensaio, o baterista relata que, após um começo tímido, o espírito do Engenheiros se manifestou — algo que ele garante que estará presente no domingo.
— Estávamos ainda nos estranhando, aquecendo, sem saber direito como fazer. Afinal, fazia tanto tempo. Mas aí eu vi. Teve um solo que o Augusto fez que fiquei: “C***! Olha só, o cara não esquece” — conclui Maltz. |