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22/09/2023
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Balneário Camboriú: avaliada em milhões, última casinha de madeira de praia será demolida


De frente para o mar, pintada de branca e com detalhes vermelhos, é possível avistar a última "casinha da avenida Atlântica". Pois, ao contrário dos arranha-céus de Balneário Camboriú e das casas de luxo com muros altos, seus portões brancos baixos são vazados, o que permite aos curiosos a observarem de perto.

Porém, resta pouco tempo para a última casa de madeira na mais nobre avenida da cidade: a residência de número 4100 será demolida para dar lugar a um prédio de 12 andares.

A casinha branca de esquadrias e janelas vermelhas tem 139 m², ocupando a maior parte do terreno de 286 m².

Exemplo de Arquitetura Popular, um estilo amplamente difundido em Santa Catarina entre o final do século 19 e meados do século 20, esse tipo de construção apresenta soluções simples, com materiais limitados – segundo a arquiteta e professora da Universidade do Vale do Itajaí (Univali) Alessandra Devitte.

Metro quadrado mais caro do Brasil

Em 1956, quando a casinha da praia foi construída, ainda nem existia sequer um edifício em Balneário Camboriú – que na época chamava-se Praia de Camboriú. Foi apenas seis anos depois que surgiu o prédio Punta del Leste, na Praia Central.

O imóvel viu a paisagem urbana se transformar, sobretudo nas últimas duas décadas.

Para o corretor de imóveis de alto padrão da cidade Diego Wantowsky, é só questão de tempo até a demolição da casa.

Na visão de Wantowsky, o local só não foi vendido antes porque o investimento para construir um empreendimento em frente ao mar é alto.

"Ainda não tem previsão de quando será construído o prédio. Foi apenas compartilhado que foi comercializado, os donos estão bem reservados quanto a essas informações", diz.

A arquitetura em madeira, em geral, acompanhou a evolução socioeconômica e cultural da região Sul, diz ela. Essa arquitetura incorporou influências estéticas de diversas culturas, especialmente da imigração alemã, italiana e polonesa, que trouxeram novas técnicas e estilos de construção.

A madeira tem destaque, especialmente entre imigrantes alemães (oriundos de uma cultura florestal), pela abundância do material na região naquela época.

A demolição da casa, na visão de Devitte, representa não apenas uma perda material, mas histórica e cultural.

"A preservação da arquitetura popular desempenha um papel crucial na manutenção da identidade cultural e histórica de uma comunidade. Ela reflete as tradições, os ofícios tradicionais, os valores e os modos de vida do povo", diz a arquiteta.

O pedido de demolição da casinha e o protocolo do projeto foram feitos em dezembro de 2022 para análise da Secretaria de Planejamento. E, em janeiro de 2023, o alvará de demolição foi emitido.

O imóvel na Barra Sul de Balneário Camboriú foi construído antes mesmo da hoje chamada "Dubai brasileira" (em referência à abundância de prédios altos) virar cidade. A casa foi construída em 1956 e adquirida em 1973 por Lio Cesar de Macedo, morto em 2016.

Ao longo dos anos, a modesta casa viu seu entorno ser tomado por prédios, estando hoje "espremida" entre os edifícios.

Ao longo dos anos, a residência (na parte inferior e ao centro da foto) ficou cercada por edifícios — Foto: EDUARDO ZAPPIA via BBC
Ao longo dos anos, a residência (na parte inferior e ao centro da foto) ficou cercada por edifícios — Foto: EDUARDO ZAPPIA via BBC

Embora a casinha seja vista por muitos como símbolo de resistência na região, os herdeiros de Macedo – que usavam o imóvel para veraneio até o ano passado – possivelmente negociaram a residência à beira-mar por um valor condizente com um título que a cidade ostenta hoje: o metro quadrado mais caro do Brasil, segundo o índice Fipe-Zap

Um corretor local consultado pela BBC News Brasil estimou que o imóvel pode ter um valor de R$ 15 milhões a R$ 18 milhões, considerando as cotações imobiliários da área.

Em 2019, um dos filhos, João Ferreira de Macedo Neto, disse a um jornal local de Balneário que não tinha interesse em vender o imóvel. A família foi procurada, mas não respondeu ao pedido de entrevista da BBC News Brasil.
Fonte: epocanegocios.globo.com
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