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07/07/2023
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'Eu quero voltar'. Aos 40 anos,Sidão deixa para trás polêmica com a Globo e busca retorno à elite


Uma opinião, uma imagem, um meme: qualquer coisa que viralize pode atingir a carreira de alguém hoje em dia. A trajetória do goleiro Sidão, de 40 anos, é exemplo de quanto o trabalho pode ser afetado por coisas que às vezes não fazem parte dele.

Depois de surgir no Audax de Fernando Diniz, em 2016, o goleiro que chamava atenção pela qualidade com os pés e participava da saída de bola como se fosse um jogador de linha pulou para o Botafogo. Então, suas boas atuações encantaram Rogério Ceni, que o levou ao São Paulo. No Tricolor paulista, os pênaltis defendidos na Flórida Cup garantiram sequência e até o posto de capitão eventualmente.

Em seguida veio Goiás e depois o Vasco, quando após uma jornada aquém do ideal, Sidão sofreu com o deboche do público. A eleição de 'Craque do Jogo' na transmissão da Globo o 'premiou' após uma partida ruim na derrota por 3 a 0 para o Santos. Visivelmente constrangido, ele não revidou. Aceitou o troféu e viralizou nas redes sociais. A partir dali, sua carreira passou longe da ideal.

"A gente sabe que a opinião pública vale muito numa contratação. Você anuncia que um nome é cotado, as redes sociais se manifestam e, dependendo disso, o clube segue em frente ou desiste da contratação. Neste sentido, com certeza aconteceu comigo. Cheguei a ponto de ficar um ano desempregado porque portas se fecharam", contou.

Quatro anos depois, o goleiro afirma ter superado o trauma e busca a oportunidade de completar sua volta por cima com o regresso a um time de elite. Hoje no Concórdia-SC, na Série D do Brasileiro, ele lembrou do peso de atuar no gol do São Paulo e do sucesso no Botafogo em entrevista ao UOL.

Era início do Brasileirão de 2019 e o Vasco perdeu para o Santos por 3 a 0. Sidão, goleiro vascaíno na ocasião, virou alvo de uma mistura de protesto e deboche. A eleição de 'Craque do Jogo', naquela época definida apenas pela participação popular, o colocou como destaque da partida com 90% dos votos.

"Até o primeiro gol ali, num erro individual meu, o time estava bem, tentando fazer o que treinamos. Eu errei, sofremos um gol e veio um resultado ruim para nós", disse ao sair de campo. Na hora de receber o troféu, Sidão, constrangido, foi direto para os vestiários.

O Vasco se solidarizou com o goleiro, a Globo pediu desculpas, mas a marca foi profunda na carreira do goleiro. Depois do constrangimento em rede nacional, Sidão defendeu o Figueirense, Atlético Catarinense e Concórdia, todos em Santa Catarina.

"Foi um dos períodos mais tristes na minha carreira, sem dúvidas. Eu estava me dando bem, levando, mas isso me acarretou muitas coisas negativas. Ficou muito marcado de forma negativa aquele episódio. Acho que todas as coisas boas que eu tenho, de superação, de chegar onde cheguei, ficaram em segundo plano a partir daquele episódio. Muita gente lembra de mim só por causa disso. Foi um período muito triste, mas já está superado. Consigo olhar para trás e está tudo certo", disse.

Depois do 'caso Sidão', a Globo mudou o formato da premiação. Desde então, o voto popular gera um ponto na eleição. O comentarista da partida também vota, e o narrador dá o voto de minerva em caso de empate.

"Eu sofri muito, minha família sofreu. As pessoas que caminham comigo, minha assessoria, quem me conhece pessoalmente e caminha comigo sofreu bastante. Foi uma deslealdade, foi de muito mau gosto. Naquele período eu sofri muito, mas graças a Deus está superado, ando de cabeça erguida, como sempre. Já passou e está tudo certo", acrescentou.

"Tem muita gente ainda maldosa que gosta de lembrar de forma negativa de tentar me atacar dessa forma, mas para mim já está bem tranquilo, está superado", completou.

'O momento mais triste da minha carreira'

Opiniões destrutivas

O pessoal tem despertado um pouco mais para essa questão de crítica. Eu acho que a crítica é válida, benéfica para que o cara se corrija e evolua, mas na maioria das vezes é extrapolada. Às vezes são ataques massacrantes que denigrem muito a imagem e todo o trabalho do atleta. Não pode extrapolar o limite do ataque pessoal,

'Eu quero voltar'

E diz a sabedoria popular que o que não te mata, te fortalece. Foi assim com Sidão. Anos alijado dos grandes centros do futebol deram tempo para crescimento pessoal. O tempo trouxe experiência e Santa Catarina virou seu lar. Por lá defendeu três times, recentemente superou a marca de 300 jogos na carreira e projeta seguir jogando por ao menos mais três anos.

"Tive a honra e o privilégio de alcançar essa marca de 300 jogos na carreira e ainda não sei quanto tempo mais vou seguir nos gramados. Mas eu me sinto muito bem fisicamente, mentalmente, para seguir no mínimo por mais uns três anos assim, bem tranquilo", projeta.

O desejo de seguir atuando revela também o sonho de recuperar seu lugar nos principais clubes do país. Sidão entende que o rendimento pelo Concórdia pode abrir seu mercado novamente para ofertas de times de elite e, assim, completar a volta por cima da marca negativa deixada em sua carreira.

"Eu só gostaria de poder ter seguido em frente no nível que eu estava, que era de Série A. Infelizmente, isso não aconteceu. Pelo contrário, me acarretou muitas coisas negativas na carreira, de ficar um ano desempregado por causa de portas se fecharem. Isso ficou muito marcado, foi bem prejudicial. Essa volta por cima eu gostaria de ter dado na Série A, estou lutando por isso", lembra.

Com contrato até o fim do Brasileiro da Série D, Sidão virou um dos líderes do Concórdia, é capitão do time e exemplo para os mais jovens.

"Eu tenho sonho de voltar a jogar a Série A, a Série B, com certeza, eu tenho expectativa de compor elencos de clubes maiores, eu quero voltar ao cenário nacional, à elite do futebol brasileiro. Por isso eu me cuido muito e tenho me reservado na vida pessoal, só focado na performance, em treinar", garantiu.

Elite na mira

Pronto para oportunidade

Eu sou um cara que me cobro muito, e por causa disso acho que toda cobrança externa para mim acaba ficando mais tranquila agora. Já tendo mais consciência do que preciso fazer, eu sei que preciso treinar mais do que os outros, me cuidar mais que os outros até para evitar lesões e essas coisas. Sidão

Por causa da carreira, acho que nos estádios que temos frequentado, um dos nomes mais citados na arquibancada é o meu. É legal o reconhecimento, às vezes não são coisas tão boas que vêm de lá, mas faz parte, é o reconhecimento por ter vestido camisas tão importantes no cenário nacional. Sidão

Polêmica no passado

Exemplos de liderança

Diego Lugano

Foi um dos maiores líderes com quem tive o prazer de compartilhar, sentar à mesa, conversar, com quem trabalhei junto. Pude acompanhar o último ano da carreira dele, e por momentos ele era reserva e nunca via ele reclamando, fazendo joguinhos para derrubar treinador. Sem dúvida foi um exemplo excepcional que tive. Como liderança, estava sempre jogando todo mundo para cima.

Rogério Ceni

Eu aprendi muita coisa com o Rogério Ceni. Sou extremamente grato por tudo que ele fez por mim. Escutei muita coisa dentro do clube a respeito do comportamento dele, de ser focado, de não abrir mão de treino, de às vezes jogar com dedo quebrado, fraturado, mas de estar em campo para representar o clube. Essas coisas motivam a gente a se cuidar mais e estar sempre a disposição para ajudar.

Chegou a minha vez

Agora é minha vez, né? Hoje estou passando essa liderança para muitos meninos novos aqui no Concórdia, que têm um futuro promissor. Eu tento, da melhor maneira, colocar esses meninos no melhor caminho, onde eu possa orientá-los para as coisas mais corretas e para que eles possam seguir um bom caminho no futebol.

São Paulo: o peso da indicação de Ceni

Sidão viveu uma das maiores honras que podem existir no São Paulo. Chegou ao clube por indicação de um dos maiores ídolos do Tricolor: Rogério Ceni. A relação com o treinador, que fez história como goleiro no time paulista, o enche de orgulho.

"Eu vou ser grato eternamente a ele por ter me dado a oportunidade de vestir a camisa do São Paulo. Foi a convite dele que cheguei, ele estava em seu primeiro ano como treinador, começando a carreira de técnico. Para mim, foi uma honra e um privilégio ter sido convidado pelo ídolo máximo do clube, ainda mais vestindo a camisa e na posição em que ele fez história", disse.

Mas ao mesmo tempo que envaidece, a indicação de Ceni também se tornou um problema. Ao alcançar a titularidade após defender pênaltis levando o São Paulo ao título da Flórida Cup, as cobranças vieram na mesma medida.

"Tem muita gente que não lembra do começo, né? Eu cheguei e o Rogério deixou bem claro que não chegaria para ser titular, porque nenhum treinador pode prometer isso para ninguém. Ele disse que eu tinha condições de vestir essa camisa, mas que não poderia prometer titularidade. Foi justamente o que aconteceu. Comecei na reserva nos dois jogos da Flórida Cup, entrei e defendi dois pênaltis na semi e dois na final. Quando voltamos dos Estados Unidos, eu já estava com uma moralzinha no clube", brincou, completando:

"É o dia a dia. Depois saí por lesão, quando voltei já era o Dorival Júnior o treinador e ele também me deu oportunidade de jogar. Acabei me tornando capitão da equipe e isso não é à toa. Infelizmente, as pessoas de fora não conseguem acompanhar esse dia a dia e ficam com aquela opinião dos 90 minutos, às vezes boa, outras ruim, mas faz parte. Não foi à toa que consegui a vaga de titular, fiz mais de 70 jogos com a camisa do São Paulo e por muitos deles fui capitão da equipe"

Botafogo: o auge

O Botafogo foi um dos melhores momentos da carreira de Sidão. Lá, a exemplo do que ocorreria mais tarde no São Paulo, ocupou o lugar de um ídolo, mas desta vez um ídolo que estava fora apenas por lesão: Jefferson.

A titularidade com 'prazo de validade' foi um dos motivos para a saída, ocorrida após uma temporada.

"Eu cheguei para compor elenco e o Botafogo brigava lá em baixo, na zona de rebaixamento. Acabei tendo minha oportunidade e, junto com meus companheiros, conseguimos dar uma liga legal, principalmente no segundo turno do Brasileiro", contou.

"A bola vinha bastante [no gol], eu conseguia fazer muitas defesas. Então, sem dúvida que foi um campeonato excelente o que fiz pelo Botafogo. Em questão de performance, foi um dos melhores que participei. Em 2018, no São Paulo, também os números eram bons, mas a bola não vinha tanto. Eram duas ou três no jogo, se pegasse estava tudo certo, se uma passasse, o goleiro não fez tanto assim. No Botafogo vinham mais bolas e eu me lembro de praticar mais defesas e isso fica mais evidente", recorda.

Para onde gostaria de voltar?

Eu olho para trás e tem duas questões. O torcedor do Botafogo sempre lembra que eu não deveria ter saído. Mas eu sempre falo que saí porque o Jeff [Jefferson] estava voltando e não tinha como ficar. Com certeza eu não teria a sequência que tive na carreira. Sidão.

No São Paulo eu tinha mais um ano de contrato quando saí para o Goiás. Acho que eu deveria ter permanecido, mesmo passando por um momento ruim. Deveria ter esperado minha vez e continuado trabalhando como sempre fiz. As oportunidades surgiriam. Sidão.

Cria de Diniz

A carreira de Sidão foi catapultada por Fernando Diniz. No Audax, em 2016, o goleiro despontou sob comando do atual treinador do Fluminense surpreendendo adversários pela capacidade de sair jogando com os pés.

"Foi, sem dúvida, uma grande alavancada na minha carreira. Ele [Diniz] tem feito a mesma coisa com o Fábio [do Fluminense]. Aos 41 anos, ele nunca teve esse destaque jogando com os pés como a gente vê ele fazendo agora, justamente por causa do trabalho do Diniz", contou.

"Sou muito grato a ele. O futebol brasileiro ainda estava engatinhando neste quesito, depois da Copa do Mundo de 2014, com o Manuel Neuer [goleiro da Alemanha]. A gente começou a perceber que o goleiro poderia ser um instrumento a mais na saída. E depois o Audax de 2016 fez todo mundo abrir os olhos e ver o goleiro como um jogador a mais na construção da jogada", disse.

Mas não confunda o que é executado em campo com tranquilidade. Sidão admite que na hora do recuo, apesar de tudo que é trabalhado, o medo é constante.

"O medo é constante. Mas uma coisa que a gente precisa aprender é a lidar com ele. O Diniz bate muito nessa tecla. O medo faz parte, faz você ficar em alerta, controlar algumas coisas. O medo não pode te travar nos movimentos, nos pensamentos, na leitura do jogo. Claro que, para quem assiste, é aterrorizante. O torcedor fica desesperado gritando para dar bico. Mas a gente treina muito. Chegamos a treinar com 12 jogadores nos pressionando. Então, quando o adversário vinha com cinco ou seis, tinha espaço para jogar", disse.

O Audax comandado por Diniz foi vice-campeão do Paulistão de 2016, perdendo a final para o Santos.
Fonte: UOL Esporte-Fernando Alves/Divulgação
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