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29/06/2023
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Corpo de Bombeiros Militar do Rio Grande do Sul tem primeiro soldado trans


Para Theo, era um grande sonho se formar bombeiro já com o nome masculino
Com 128 anos de história, o Corpo de Bombeiros Militar do Rio Grande do Sul (CBMRS) tem, pela primeira vez, um soldado transexual. Theo entrou na corporação como Bruna, mas hoje é o primeiro homem trans a integrar o efetivo da corporação. Agora, o militar carrega na farda o nome Theo, como sempre sonhou, e é tratado por todos como um soldado do sexo masculino – a identidade de gênero com que se identifica.

Tanto a transição de gênero de Theo como a sua formatura como bombeiro são bastante recentes. A mudança ocorreu há aproximadamente três meses, e a solenidade, em 16 de junho deste ano. Para Theo, era um grande sonho poder se formar já ostentando no peito o nome masculino no sutache, uma tarjeta fixada sobre o bolso do uniforme que identifica o militar.

“É a realização de um sonho. É como me identifico e como eu esperava ser chamado desde pequeno. Era o sonho de todos os meus amigos ver o nome com o qual me identifico na minha farda, no meu peito. É muito mais do que eu esperava. É maravilhoso para mim”, descreveu Theo.

Aos 24 anos, o bombeiro alterou o seu nome e sexo no registro civil. Bruna Hevia Caravaca, sexo feminino, deixou de existir nos documentos públicos e deu lugar oficial e juridicamente a Theo Hevia Caravaca, sexo masculino, que teve a sua nova identidade prontamente reconhecida pelo CBMRS.

O jovem ingressou no Corpo de Bombeiros no ano passado, após ser aprovado em concurso público. Quando entrou na instituição, Theo ainda estava registrado como Bruna. No início do curso de formação, que durou quase 11 meses, portava-se como uma aluna do sexo feminino, embora tivesse o desejo de que o cenário pudesse ser diferente.

“Desde criança, já me sentia muito desconfortável com os padrões considerados femininos. Quando entrei no Corpo de Bombeiros, já me identificava como Theo e no gênero masculino, mas, por medo, decidi ingressar com o sexo e o nome feminino, porque eu ainda não havia feito a retificação nos meus documentos. Era como se eu estivesse vivendo uma vida dupla. Aqui dentro, me conheciam por Bruna. Lá fora, minha mãe e meus amigos já me chamavam de Theo. Isso estava me deixando muito mal”, relatou o soldado.

Na metade do curso de formação, em uma conversa com a capitã Paula da Fontoura Acosta, comandante da Academia de Bombeiro Militar (ABM), o soldado manifestou o desejo de realizar a transição de gênero, pretensão que foi bem recebida pela corporação.

“Um dia, ela me chamou para conversar e perguntou como eu me identificava. Não esperava. Achei superlegal, me senti acolhido, porque ela se interessou em saber para que eu me sentisse confortável dentro do meu ambiente de trabalho. Então, vi que posso ser quem eu sou aqui dentro, mesmo sendo um ambiente militar. Foi aí que decidi continuar com o meu processo de transição”, contou.

Processo de transição
Após a conversa com a capitã Paula, que demonstrou sensibilidade e empatia, o jovem sentiu-se pronto e confortável para dar início aos trâmites da transição. Mudou o seu registro civil, recebeu a nova identidade e teve seus documentos retificados pelo Corpo de Bombeiros Militar. Passou a contar também com apoio na área de saúde mental no Hospital da Brigada Militar.

“Juntei todos os documentos que precisava para levar até o cartório. Assim que consegui trocar os documentos, trouxe para os meus superiores, para que pudesse ser feita a parte burocrática”, explicou Theo.

Dentro do quartel, também houve mudanças, como a transferência do alojamento feminino para o masculino. “Desde os meus colegas até os praças e oficiais do Corpo de Bombeiros, tive muito apoio e acolhimento de todos. Nunca sofri nenhum tipo de preconceito. Isso me surpreendeu bastante. Foi um processo muito leve e acolhedor, tanto que me sinto em casa quando chego aqui”, ressaltou.

Natural de Porto Alegre e estudante de Direito, Theo demonstra estar bastante feliz com a nova fase, comemora o relacionamento amistoso com os colegas do CBMRS e faz planos para o futuro. Ele trabalhará em Porto Alegre e, embora ainda não saiba o setor em que ficará, está ansioso para servir.

“Sempre tive vontade de estar no ambiente militar, de ser militar. Após a transição, me sinto muito mais feliz e preparado para servir à sociedade gaúcha. Corpo de Bombeiros é salvar e proteger. Então, eu estando bem comigo mesmo, amando quem eu sou, posso dar o melhor de mim aqui dentro, que é o que a sociedade gaúcha merece”, pontuou.

A formatura de Theo foi emblemática também por outro motivo: a solenidade ocorreu na manhã de 16 de junho, depois do ciclone extratropical que atingiu o Rio Grande do Sul na noite do dia 15. Naquele dia, logo após a cerimônia, os bombeiros recém-formados embarcaram para várias cidades gaúchas, a fim de auxiliar nas missões de busca e salvamento. Theo foi um deles, tendo sido destacado para atuar em cidades como São Leopoldo, Montenegro e Novo Hamburgo.

Theo utiliza uniformes masculinos e iniciou tratamento hormonal. Não realizou nenhuma intervenção cirúrgica para alterar suas características biológicas. Ele cumpriu todos os requisitos do curso de formação, que inclui provas teóricas e práticas. Além disso, deseja passar por uma nova bateria de testes físicos, desta vez em conformidade com sua identidade de gênero.

No último 28 de junho, data em que se comemora o Dia do Orgulho LGBTQIAPN+, o comandante-geral do CBMRS, coronel Eduardo Estêvam Camargo Rodrigues, destacou a importância do respeito às diferenças e à diversidade de gênero.

“O Corpo de Bombeiros Militar do Rio Grande do Sul é composto por pessoas vocacionadas, as quais respeitamos em suas individualidades, indistintamente. Exigimos apenas, como profissionais de excelência que são, um alto nível técnico de preparação para prestar um serviço público de relevância, qual seja, salvaguardar a vida e o patrimônio de toda a população gaúcha. É isso que a sociedade espera e merece de nós: que todos os militares encontrem o ambiente e o treinamento necessários para cumprirem suas missões e, assim, estarem prontos para atuar em qualquer situação”, afirmou.
Fonte: secom
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